
Por Ramsessantos – Obra do próprio – Wikimedia
Dia Internacional da Mulher – 8 de março
Maria Firmina dos Reis – escritora brasileira, foi a primeira autora a publicar um romance dando voz aos escravizados, transformados em mercadorias, e denunciando a barbárie nos navios “Tumbeiros”.
“Quem há de ouvir-me os gemidos
Que arranca profunda dor?
Quem há de meus ais transidos
De virulento amargor,
Escutar – tristes, sentidos,
Com mágoa, com dissabor?
Ninguém. Um rosto a sorrir-me
Não hei de aí encontrar!…
Quando a saudade afligir-me
Ninguém irá me consolar;
Quando a existência fugir-me,
Quem há de me prantear?”
O proscrito
Maria Firmina dos Reis
Coragem, garra e resiliência são qualidades que não faltam às escritoras brasileiras, especialmente as negras desbravadoras. Cerca de dez anos antes da publicação de Navio Negreiro de Castro Alves, em 1869, Maria Firmina publica Úrsula (1859). Entretanto, assinou apenas como “Uma Maranhense”, dentro das “regras” de invisibilidade feminina que eram costume na etiqueta literária do século XIX, marcada pelo anonimato, uso de pseudônimos e autodepreciação.
Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís do Maranhão, em 11 de outubro de 1825, “filha natural” da escrava alforriada Leonor Felippa dos Reis, tendo como avó a também escrava alforriada Engrácia Romana da Paixão e, como tio, o professor, gramático e filólogo Sotero dos Reis, pertencente ao ramo branco da família e com forte atuação nos círculos letrados da capital maranhense. Ela concluiu apenas o primário (atual fundamental). Não lhe permitiram fazer o curso de formação para o magistério, o “Normal”, pois apenas homens podiam continuar os estudos. Mas não desistiu! Tornou-se autodidata e passou a frequentar a casa de seu tio Sotero dos Reis, então muito influente na área da educação.
Em 1847, é aprovada em concurso público para a Cadeira de Instrução Primária na vila de São José de Guimarães, no município de Viamão. Uma mulher negra se tornar professora numa sociedade machista, patriarcal e racista em pleno século XIX foi um grande feito.
No início da década de 1880, ao se aposentar, a autora funda a primeira escola mista e gratuita do Maranhão e uma das primeiras do país, na localidade de Maçaricó. Isso causou uma repercussão tão grande que a professora foi obrigada a suspender as atividades depois de dois anos e meio.
Maria Firmina publicou vários contos, poesia e crônicas nos jornais locais (.A Verdadeira Marmota, Semanário Maranhense, O Domingo, O País, Pacotilha, O Federalista, entre outros.). Também atuou como folclorista e chegou a compor um hino em louvor à abolição da escravatura.
Em 1861, a autora lança Gupeva, narrativa curta de temática indianista, publicada em capítulos na imprensa local; em 1871, publica Cantos à beira-mar, marcado pela melancolia feminina diante da realidade de um mundo patriarcal escravocrata e em 1887 publica A escrava, de cunho abolicionista.
Maria Firmina dos Reis faleceu aos noventa e dois anos, em 11 de novembro de 1917, pobre e cega, no município de Guimarães. Infelizmente, muitos dos documentos de seu arquivo pessoal se perderam e até o momento não se tem notícia de nenhuma foto sua daquela época.
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