O Dia Internacional da Mulher – dia 8 de março, comemorado em mais de 100 países e ignorado por muitos outros, não foi criado para se presentear as mulheres com flores, bombons e outros mimos. É um dia para nos lembrarmos que somos seres humanos, que temos sonhos, desejos, angústias, medos e, sobretudo, direitos. Os mesmos direitos que os homens. Nossa diferença biológica não nos faz menos inteligentes ou menos capazes, embora seja necessário que políticas públicas nos trate com a equidade necessária.
Cada direito vigente da mulher hoje foi conquistado com muito suor, lágrimas e sangue. Sim, muitas morreram para que conseguíssemos chegar até aqui. E muitas ainda morrem. Infelizmente, temos que continuar lutando arduamente, pois, a cada avanço, nos deparamos com retrocessos liderados, sobretudo, por homens brancos, conservadores ou de extrema direita, que, na primeira oportunidade, nos tiram o chão. Mas se enganam aquelas que acreditam nos discursos de homens que se dizem liberais ou mesmo de esquerda. Na prática, discurso é só discurso. As ações de muitos desses liberais e esquerdistas não costumam ser diferentes das ações de seus opositores.
Então, para comemorar esse dia, vou falar um pouco de mulheres brilhantes, que foram em frente e não desistiram de seus sonhos e de serem elas mesmas.
Vamos começar por uma escritora brasileira bem conhecida.
Carolina Maria de Jesus
“Não sei dormir sem ler. Gosto de manusear um livro. O livro é a melhor invenção do homem.”

Foto: Oferecendo autógrafos de seu livro “Quarto de Despejo”, no qual relata o cotidiano e sentimentos experimentados pela comunidade da favela. Agosto de 1960. Arquivo Nacional do Brasil.
Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil, nasceu em 14 de março de 1914, na cidade de Sacramento, em Minas Gerais, numa comunidade rural.
Consciente da desigualdade social e da discriminação racial, Carolina fez de seu diário um instrumento de resistência, tecendo críticas à política e ao governo, responsabilizando-o pela fome e pela pobreza.
Sua vida foi marcada por dificuldades financeiras a despeito do sucesso de seus livros. Educou seus três filhos sozinha. Não quis se casar para não ter que se submeter aos homens. O pai do seu primeiro filho a abandonou grávida; o de seu segundo filho, um comerciante espanhol que ela abandonou por causa de suas traições, tampouco a amparou. E, como não poderia deixar de faltar, o pai de sua terceira filha a agredia e humilhava, fazendo-a terminar o relacionamento e, claro, ter que arcar com todas as despesas e cuidados com a filha sozinha, ou melhor, com os três filhos.
Com a publicação de seu primeiro livro, Quarto de Despejo: diário de uma favelada, em 1960, Carolina passou a ser reconhecida internacionalmente como a negra da literatura brasileira. Ganhando homenagem na Academia de Letras de São Paulo e na Faculdade de Direito de São Paulo, a escritora que, até então, desconhecida, ganhou as mídias por todo o país. Sua presença era requisitada em todo o país e também no exterior, tendo viajado para o Uruguai, Chile e Argentina, recebendo, em Buenos Aires, a “Orden Caballero del Tornillo”.
Passou a receber pagamentos de direitos autorais, mas, embora constantes, eram pequenos, insuficientes para que conseguisse viver melhor do que pouco acima da linha da pobreza.
Mudou-se para Parelheiros, mas, pouco depois, Carolina parou de receber pagamentos de direitos autorais. Tinha tão pouco dinheiro que ela e seus filhos passavam certos dias catando papéis e garrafas para vender. Periodicamente também entregava a uma vendedora local os abacates, bananas e mandiocas que produzia para serem vendidos num mercado local.
Em 1962, Quarto de Despejo foi publicado nos Estados Unidos pela editora E. P. Dutton com o título Child of the Dark. No ano seguinte, como parte da coleção Mentor, a tradução ganhou uma edição de bolso, publicada primeiro pela New American Library, depois pela Penguin USA. Segundo o autor Robert Levine, somente das vendas desta edição, que totalizaram mais de trezentas mil cópias nos EUA, Carolina e sua família deveriam ter recebido, pelo contrato original, mais de cento e cinquenta mil dólares. Contudo, não foi encontrado indício algum de que ela tenha recebido sequer uma pequena parte disto. (Wikipedia)
Carolina Maria de Jesus morreu aos 62 anos em seu quarto, em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977. Foi vítima de uma crise de insuficiência respiratória, devido à asma, doença que carregava desde seu nascimento, e que apesar de realizar tratamento, havia se agravado.
Outras obras da autora:
“Casa de alvenaria (1961);
Diário de Bitita (1986);
Meu estranho diário (1996)”
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